Aula de edição

Foi-me solicitado um texto para o jornalzinho do colégio em que fiz meu ensino médio (e pelo qual nutro afeição verdadeira). Era para ser algo como "ex-alunos e onde estão".

Não foi definido o tamanho (uma lauda, mais ou menos). Fiz, então, uma página e sete linhas. Grande, sim; mas esperava que, sendo eu estudante de jornalismo,  o mínimo que fariam é, se preciso, me pedir para editar e reenviar o texto com o tamanho especificamente adequado. Na verdade, o que fizeram foi, sem me perguntar nada, pinçar parágrafos para criar um "texto-frankstein".

Claro que a edição altera o sentido. Só que o jornal saiu  com minha assinatura. Tiragem de 3000 exemplares. Por isso, achei legal publicar, aqui, as duas versões: a origem e a que foi atribuída a mim.

Assim como eu fiz, divirtam-se.


Original

Algum tempo hesitei se devia abrir esta breve exposição pelo princípio ou pelo fim. Isto é, se poria em primeiro lugar os meus anos de aluno NAP, dos quais as lembranças respiram sem esforço; ou a minha atual condição, a uma volta no Sol de me graduar jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).  

Suposto o uso canonizado seja começar pelo cabo, duas considerações me levaram a desejar um método diferente. A primeira é que não sou Machado de Assis, cujo brilhantismo me faz mastigar a inveja na língua; e a segunda eu não consegui pensar direito. Depois de esfolar uns tantos neurônios, decidi falar sobre algo de que não havia me dado conta até aqui: a relevância do JorNAP no meu direcionamento profissional. De certa forma, serve para sintetizar o encontro dos dois momentos (o princípio e o fim) lá de cima. 

Quando era eu quem ocupava a espaçosa cadeira verde-hospital do colégio, nos anos de 2006 a 2008, aguardava ansioso por cada edição semestral que ajudava a produzir. Ficava com as orelhas em brasa quando via um texto, com minha assinatura, modificado pela droga-da-editora-profissional-assassina-de-matérias-que-a-escola-insistia-em-contratar. Meio Narciso mesmo (mal de 12 a cada 10 jornalistas, ainda que mirim). O fato é que essa foi a primeira oportunidade que tive para trabalhar (e teimar, e limar, e sofrer, e suar) com informação, sabendo que – valei-me, meu São Francisco (de Sales, e não de Assis) – alguém ia me ler. 

Tomei gosto pela coisa. Apaixonei-me pela possibilidade de narrar as mais diferentes histórias (paixão que não passou – e o coração continua); sem que fosse necessário fazer uso da imaginação. Não que não seja.  Mas jornalismo é, essencialmente, trabalho de prospecção, de tato; de saber resgatar da lama da ignorância a pepita mais reluzente da notícia. Para isso, é preciso se despir de qualquer preconceito e estar sempre disposto a manter as discussões abertas, sem cerrar questões ou definir estatutos. 

Prestei vestibular em 2008, quando o curso era o terceiro mais concorrido; e o diploma, obrigatório. Passei. Estudo no Centro de Artes e Comunicação (CAC), que, de forma geral e grosseira, é o espaço de convergência das figuras mais irreverentes e bizarras da cidade. A título de ilustração, a primeira pessoa que lá avistei foi um senhor de 60 anos cuja cabeça fazia vez de alicerce para um moicano punk, pintado de rosa choque. Encantei-me pela Universidade. 

Mas nem tudo é poesia. Em termos de gestão de curso, a UFPE ainda tem muito a aprender. Muitas cadeiras são repetitivas; e uns tantos professores, intelectualmente preguiçosos. Não me constrange afirmar que aprendi mais debatendo pelos corredores do que silenciando na sala de aula. Paralelamente, o mercado de trabalho é um ponto que sempre suscita dúvida em quem pondera se aventurar na profissão. Quanto a isso não há mistério: saiba que o ofício não é dos mais bem pagos, e é preciso mergulhar de frente (estabelecer boas relações e demonstrar perícia) para se consolidar na área. Faz-se importante dizer, no entanto, que, enquanto estudante, estágio não falta. 

Ingressei na UFPE para me preparar. Também, durante esses três anos, ministrei aulas no projeto NAPcomunidade (que recomendo a todos, o lucro profissional e humano é impressionante). Tive meus louros e minhas frustrações, mas continuo sem me sentir pronto. No dia em que começar a achar que sou um jornalista feito, saberei que passou da hora de parar.  

Sei que a interrogação é a maior das minhas armas. Através dela, desbravam-se campos inóspitos das verdades absolutas e se rompem os grilhões do atraso. A grande sacada reside em saber que a certeza nunca fez o mundo andar. Ser jornalista é respeitar o diferente, respeitar o outro. Por isso, é a arte do encontro entre pessoas, suas histórias, e o mundo. Diferente do defunto-autor, que mais nada pode fazer sobre a terra, o fazer jornalismo é postura de reflexão; e a reflexão provoca mudanças. 

Muita gente diz que foi inevitavelmente arremessado no obscuro mundo da imprensa, já que não saberia lidar com qualquer outra coisa. Comigo não. Eu escolhi, porque quis; mas entendo quem não topa comprar o risco. Não me arrependo dois dedos.

Publicado 

Algum tempo hesitei se devia abrir esta breve exposição pelo princípio ou pelo fim. Isto é, se poria em primeiro lugar os meus anos de aluno NAP, dos quais as lembranças respiram sem esforço; ou a minha atual condição, a uma volta no Sol de me graduar jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Prestei vestibular em 2008, quando o curso era o terceiro mais concorrido; e o diploma, obrigatório. Passei. Estudo no Centro de Artes e Comunicação (CAC), que, de forma geral e grosseira, é o espaço de convergência das figuras mais irreverentes e bizarras da cidade. A título de ilustração, a primeira pessoa que lá avistei foi um senhor de 60 anos cuja cabeça fazia vez de alicerce para um moicano punk, pintado de rosa choque. Encantei-me pela Universidade.

Muita gente diz que foi inevitavelmente arremessado no obscuro mundo da imprensa, já que não saberia lidar com qualquer outra coisa. Comigo não. Eu escolhi, porque quis; mas entendo quem não topa comprar o risco. Não me arrependo dois dedos.

*A edição e publicação do jornal são terceirizadas 
 

Um comentário:

  1. Como apreciador de um texto bem escrito e com lógica, acho q a edição vacilou aí.
    Como leitor de um jornalzinho Nap, acho q eu não leria o original =x kspoaopska
    e como alguem q so qr entender sentido na edição acima, acho q eles 'só' cortaram a parte q tu explica o que é ser jornalista e o que é o jornalismo; e as criticas à UFPE

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