A ignorância afirma ou nega veementemente


Petrarca inventou o amor. Quer dizer, foi, antes dele, a literatura que o criou. Escorre das canetas; de toda pena que pinga, em retrocesso histórico, o líquido amniótico da poesia do século catorze, e das pequenas canções italianas, e dos trovadores provençais. E de Petrarca. A invenção do amor é literária. A efusão crua de sentimentos não é mais que máscara do cio.



O amor é uma bobagem. Cera; a sinceridade é o sexo. Teatro catarse, palavra ametista. Coisas bonitas (embora, desde Kant, a concepção estética é expressão maior do subjetivo). O amor, em seu âmago, é literalmente literatura.



Petrarca é, por assim dizer, a epifania do cinismo. A necessidade atemporal de justificativas éticas para a natureza. Como se o natural precisasse de um antropoatestado para ser legítimo. Melhor: o amor, talvez, seja anacrônico. Talvez, desde Kafka – e sua metamorfose de cabeça para baixo – sua ode ao retrocesso – o regresso ao in natura – o amor seja anacrônico. Ou antes dele, não sei.



Parece, no entanto, que – a cada declaração debutante ou derradeira – pishtacos embolam a gargalhadas. Pouco dizem, muito pungem encenações malfeitas. Teratológicas.





Boas praças reservam a si a vez de conselheiro aos casais: “Se curtam”.

Mas mal conseguem ouvir que o que ressoa, na verdade, é: “Cicuta”.





Faz pensar que até aqui a associação inversa te faz pensar.
Nem tudo que faz crescer faz sorrir.