STOP

- Nome?
- Asdrúbal.
- Como é?
- Asdrúbal.
- Astrúdal?!
- Não... Asdrúbal.
- Uma porra!
- Claro que é, Asdrúbal existe. O avô do Mequinho, que a gente conheceu naquele aniversário lá, é Asdrúbal. Pergunte a ele!
- Porra, o avô do Mequinho é o quê?!
- Asdrúbal! Pergunte a ele!
- Aham... Beleza, velho, eu botei “Antônio”. E o lugar?
- Tu botasse o quê?
- “Alabama”.
- Sério?! Eu também!
- Peraê, Luizinho, tem Alemanha, Alasca, Aracaju, e tu bota “Alabama” também?
- É que eu não pensei em nada...
- Como assim?! Tás olhando o meu, é?
- Qual foi, doido? Claro que não... Eu só não pensei em outro lugar.
- Oxe! Tinha Argentina, Austrália, Acre...
- E só me veio “Alabama”.
- Umpf.
- “Umpf” o quê?
- Nada, velho. Objeto?
- “Harpa”.
- Ei! Harpa é com “H”!
- É não, é com “A”.
- Óbvio que não é com “A”! É com “H”. Cadê o dicionário?
- Não tem dicionário nessa casa, não.
- E o que é aquele “Aurélio” ali na estante?
- Qual?... Aquilo?... É uma enciclopédia.
- Enciclopédia “Aurélio”?
- Pronto, agora deu mermo! Quer saber mais do que eu, que moro aqui?
- E precisa morar aqui pra saber que “Aurélio” é dicionário?!
- Dicionário e enciclopédia também!
- Luizinho, tu tá roubando!
- Roubando uma porra. Tu que não sabe jogar. Nem escrever!
- Putz... Na moral, velho. Tá complicado, visse?
- Vai, doido, tu botasse o quê?
- Botei o que em quê?
- Em “objeto”, né, burro?
- Ah! Botei “anel”.
- Anel?!
- Algum problema?
- Sei lá... tanto objeto com “A” por aí...
- E tu escreve “harpa”, que é com “H”?
- Velho, não vou ficar discutindo com quem não sabe escrever!
- Aham... Cor?
- Cor?! “Azul”.
-  O meu foi “amarelo”. Animal?
- “Animal” você diz primeiro!
- Por que eu vou dizer primeiro, Luiz?
- Mas eu já falei “cor” primeiro.
- Nada a ver. Eu falei a maioria primeiro.
- Deixa de frescura e fala logo!
- Eu botei “aranha”.
- Eu também!
- Mentira, Luiz! Botou nada de “aranha”! Seu papel tá em branco!
- Nada disso! Eu botei sim! Tá aqui, ó!
- Deixa eu ver...
- Tá aqui escrito.
- Deixa eu ver!
- Pra que você quer ver?
- Pra eu provar que tu não botou foi nada!
- Botei, sim! Confia em mim não, é?
- Confio não, doido! Tu tá roubando desde que começou!
- Eu não roubo, não! Peraê... Pronto!
- Você escreveu agora! A letra está toda borrada!
- É que eu escrevi rápido, só isso.
- Então! Escreveu agora!
- Não, garotão! Eu escrevi na hora de escrever.
- Isso mais parece “Amanda” que “aranha”!
- Qual é o problema da minha letra ser feia?
- Todo! O problema é todo! Você não sabe perder e fica roubando!
- Pare, velho. Bora fazer o seguinte: a gente anula “animal” e segue a vida. Beleza?
- Por quê?
- Oxe! Tu não quer aceitar o que eu escrevi e eu não faço questão de ganhar, doido, então vou deixar anular essa.
- Mermão, beleza, Luiz. Mas se tiver mais uma dessa quem para de jogar sou eu.
- Por mim, tranquilo. O que é que vem agora?
- Time de futebol.
- Eu botei Alagoano.
- Mas isso não é um time! É um estado!
- É um time, sim! Joga na segunda divisão do...

Por mais que eles tentem

Logo de dia, esperto espia, em cima do muro e tal,
A força da foice, o frio da chama, areia, espuma e cal.
E olhos do cego enxergam ao longe o rubro manto de dor
E, de novo, à noite, o tempo espera; a luta não cessa, o fogo não cansa,
As unhas se cravam, o espelho se quebra e a garganta explode assim.

E por mais que eles tentem acabar com alegria, da noite pro dia, vão ver:
As unhas da águia manchadas de sangue, dos ratos do meu jardim.
As unhas da águia manchadas de sangue, dos ratos do meu jardim.

No lento compasso, a dobra do aço, a mancha de lama e suor
O prêmio aguarda, as duas mãos pardas, a trama, o silêncio e só.
E brota das rochas, valente e bruta, a rosa de ouro e esplendor.
E, de novo, a noite, o tempo despacha; a luta já finda, o fogo se cansa,
As unhas se largam, o espelho se ergue e a garganta explode assim.

E por mais que eles tentem acabar com alegria, da noite pro dia, vão ver:
As unhas da águia manchadas de sangue, dos ratos do meu jardim.
As unhas da águia manchadas de sangue, dos ratos do meu jardim.

Sem mim

Para casa
Agora eu vou
Dormir.
Só quero
É fogo

Preto,

Mas não tem jeito
Se é assim
O que há de fazer?
Fogo?!
Não nego, nem cego
A faca
No pescoço
Tão longo
Tão fino,
Um mimo
Do mínimo
Esforço, seu moço.
Talvez saiba
Que o fim
Da navalha

É

A boca do fosso,
Mas...
Nem ouço.
Só quero poder
Mamar
Nas tetas magras
Da estreita avenida
Tão cheia,
Tão cheia,
Chega arrepia
A espinha.
No fundo,
Passeia
A triste poeira
Da última sílaba
Da última linha
Da minha poesia, que

Sem mim

Não vale é nada.

Discurso para Humanas 1




Viver três anos de NAP foi formidável. E, se Amandinha me permite fazer uso da expressão, MARCOU, né? Pois é. Marcou!!!
Afinal, foram um... dois... três puxados, cansativos, mas, extremamente curtos anos. E como foi rápido! Outro dia estávamos nervosos por conta do nosso primeiro dia de aula em um lugar ainda estranho e, agora, comemoramos o encerramento de mais uma etapa da vida e já sentimos saudades.


Quando entramos, ainda em 2006, nos deparamos com muitos rostos desconhecidos... Hoje não, muitos, que não se conheciam, estabeleceram verdadeiras relações de amor, de querer bem, de querer estar perto e essas relações, com certeza, levaremos para sempre. Sabe por quê? Porque foi junto dessas pessoas que vivemos momentos inesquecíveis de felicidade.
É por tudo isso que sinto não poder parar o tempo, curtir mais um bocado. Sinto me submeter a ele e não poder fazer nada, já que a ciência ainda não nos permite intervir na inexorável lei do tempo. E como aprendemos, muito bem por sinal: Dura Lex, Sed Lex.


Pois bem, dizem que quando alguém está morrendo, passa um filme projetado pela própria pessoa com cenas marcantes da sua existência. O que a gente tentou fazer, até agora, foi mais ou menos isto: botar esse filme para rodar. A diferença é que, depois, ninguém vai sair carregado no caixão, espero. E como é de praxe em todo bom filme, o melhor fica para a última cena.


Em 2008, vivemos o clímax da nossa produção, o momento em que o enredo se direciona ao final. Dessa vez, o cenário foi diferente: o América; a direção também foi nova. O elenco já não era mais de todo estranho. O nosso terceiro ano: a cereja do bolo, o ano da responsabilidade, estudo; quando muitos se deparariam com, talvez, o principal acontecimento das suas vidas: Porto Seguro.


E na terceira etapa do nosso filme, uma sala, em especial, seguiu uma curiosa proposta de crescer junta, mesmo que houvesse oscilações na sua postura: ora caótica, ora estável; ora agressiva, ora apaixonante; ora água, ora vinho: refiro-me à turma de Humanas um. Composta por 57 personagens, e verdadeiros heróis, detentores de diversas características, de forma que traçar um perfil que definisse a todos satisfatoriamente torna-se uma tarefa que beira a impossibilidade.


Juntos, formamos uma mistura de gostos, comportamentos, interesses e desinteresses, opiniões, talentos e sono, não é, Bia?! Uma sala de grandes homens e grandes mulheres que, durante o ano, sofreu algumas baixas, mas também recebeu reforços de alunos mais que especiais. Uma sala que, em meio à brincadeira e à alegria, aprendeu a ser séria também, e soube valorizar os momentos que fazem bem, porque foram eles que fizeram a gente evoluir como estudantes, como cidadãos e, principalmente, como companheiros.


Mas o importante mesmo é que, durante os três anos, a gente não passou simplesmente, a gente viveu, inspirados no mestre Gonzaguinha: “Viver é não ter a vergonha de ser feliz”. E agora, é preciso entender que para seguirmos os nossos caminhos é necessário deixar algumas coisas para trás. É preciso aprender com as sementes, que morrem para germinar, e a dor dessa morte, para gente, representa a dor da separação, de um suposto fim, que nada mais é que o intervalo para a felicidade próxima, ou para um novo início, na universidade. Quem sabe?! Como diria Drummond: “a dor é inevitável; o sofrimento, opcional.”


Sei bem da minha mínima autoridade para oferecer conselhos. Mesmo assim vou me aventurar, porque julgo ser importante: Busque sempre o seu melhor, seja para erguer pontes ou pôr uma linha na agulha; procure dar sempre o seu máximo. Seja fascinado pelo realizar, sem pensar em recompensas: Michelangelo não passou vários anos pintando a Capela Sistina por dinheiro; Beethoven não compôs a Nona por dinheiros; Bin Laden não derrubou as torres gêmeas por dinheiro; nem foi por dinheiro que Mahatma Gandhi ajudou a libertar a Índia. Quem pensa apenas em dinheiro não consegue, sequer, ser um grande bandido, um grande canalha.
Faça, simplesmente, faça. Colabore com o seu biógrafo. É preferível o erro à omissão. É melhor comprar uma luta, mesmo que haja o risco da derrota, a permanecer inerte, no ócio. Os que não lutam não perdem, mas também não vencem, muito menos conhecem a glória de ressurgir dos escombros, das cinzas.


Pense que cada homem foi criado para construir pirâmides e escrever canções, descobrir planetas e fórmulas matemáticas. O homem foi feito para buscar respostas e perguntas, através de muito esforço. E quando os objetivos são alcançados, nós chamamos de sucesso.


O nosso sucesso já começou a ser montado, infelizmente, temos que nos submeter àquela provinha: o Vestibular. Mero detalhe. Se você souber os dias da semana já está melhor que o Sol (o Sol não sabe de nada). Vestibular a gente tira de letra: letra ‘H’ de honestidade, hombridade e humanidade, e ‘um’ de único, pioneiro e vencedor. Vencedor por conta dos laços tão fortes, das amizades e da certeza de que soubéssemos antes o que sabemos neste momento, erraríamos tudo, exatamente, igual, porque, absolutamente tudo – as desavenças, desentendimentos, conquistas, tudo valeu a pena e nada do que foi será de novo de um jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará. E está passando... Já passou.

Carnaval e Fuligem


Minha cidade canta a miragem
Cores acrobatas na avenida
O tapete vivo serpenteia no asfalto
Um suspiro alto abafado por metais violentos
Me retenho nas rendas trançadas, no som de clarim
Na viagem no tempo, na poesia do vento
Tão bela imagem de tamanho cacife
Confunde início ao fim. E lá se ia...
Numa noite agradável, sem resposta viril.
Seria aceitável, ao menos, tornar-se assim
Como os rios são de Recife
Ou como o samba é da Bahia
E a beleza é todinha do Rio.

E já é carnaval, meu bem
O batuque da mulata insiste
Em pisar forte, rasgar a sandália e sujar o pé
Insiste em gingar tão leve que desaba, na fuligem.
E roda. Roda a saia, abre a roda.
No entanto mergulha. Vertigem.
O teu íntimo, no ritmo... do teu beijo.
E o meu desejo é te querer.

Não. Longe de mim, tentar calar a fantasia,
Embora de dia perca o brilho, perca a força.
Mas não a lembrança da folia e da moça.
Muito menos do frevo que já tocou e já tocou.