Vendedor de Palitos de Fósforos, 1920 |
Sempre alimentei uma curiosidade em rebobinar (termo tão metalinguístico quanto proparoxítona) processos de constituição das estruturas de pensamento e de conceitos. Embora, confesso, em resposta à fragilidade intelectual que constantemente me assalta, o faça entupido de muletas. Meio aquelas botinhas-de-correção-Forrest-Gump para o cérebro.
Aprender a andar só é possível através da consciência da queda. Ninguém vence a gravidade; descobre que há como se conciliar a ela. E é assim, dentro desse incansável exercício de aprendizado, que, nos meus poucos e grosseiros passos, escorrego na obra (na verdade, em uma obra) do alemão Otto Dix, que data, veja você, de mil novecentos e vinte. Mas o tropeço que não leva ao solo reforça o reflexo da estabilidade.
A composição faz parte da mostra Arte Degenerada, cujo desvelo é muito mais regenerativo que qualquer outra coisa. Atraquei-me a ela. E, ainda no cais, pude perceber a dimensão que não evapora em quase um século derramado. O arco, traçado a pinceladas, é ideologicamente emancipatório.
Forca da falácia, seu eixo escapa à retratação do gorduroso bolo ideológico que, ao ruminar a cultura do senso comum (e sua riqueza inerente), cria (e crê em) um bloco que abriga "heróis" veteranos de guerra no semi-Olimpo do reconhecimento social.
Vendedor de Palitos de Fósforos é daquelas peças (como A Traição das Imagens, de Magritte) que saem do denso (e subjetivo) amálgama do desconhecido direto para o corredor de ideias (apropriadas) que a arte sintetiza. A imagem reúne os pilares com os quais escolhi sustentar o que penso sobre guerra e nacionalismo. Este último, por sinal, de forma muito mais sutil - e por isso mais intensa - quando se dá o devido relevo ao momento da obra: uma Alemanha - aos farrapos pelo parasitismo de Versalhes - caminhando de encontro ao Estado Nazista.
Enfim. Aqui, Dix é sal de frutas para a azia cognitiva.
Ps. Os mais atentos devem ter percebido que o texto não faz uma leitura da obra; muito menos se dispõe a distribuir pontos finais em qualquer discussão.
Tu devia desenvolver tuas ideias sobre guerra e nacionalismo.
ResponderExcluirSe bem que já deve ter rascunho pra isso. =P
Sim, curti Duchamp!
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